André
Escórcio esta semana em exclusivo para os leitores do Banquete da Palavra... Entre tantas coisas, foi professor, jornalista, deputado e, mais do que tudo, um amigo inquieto com o mundo, especialmente, com a nossa terra e naquilo que é o mais importante para o seu futuro, a educação/a escola dos mais novos... Obrigado amigo pela sua transparência e testemunho.
Eu, leigo me confesso. Não sou e nunca
fui dado a rituais. Cansa-me a repetição, a ausência de inovação, porque me
desvia do fundamental. Recebi o baptismo, transmitiram-me e liguei-me à
Mensagem da Palavra que fala, entre outros, de amor, tolerância e
solidariedade. Daí que, nas raízes do meu pensamento, esteja sempre a vida e os
outros, tendo por elemento central a pergunta: se sou feliz, por que razão os outros
não o deverão ser? A resposta não a encontro nos simbolismos para a qual a
Igreja empurra, tampouco em uma fé desprovida de sentido ou em uma caridade que
eterniza a vida dos que vivem na margem. Não significa isto o meu total
abandono pelos cerimoniais, mas a profunda convicção que a Palavra, aquela que
me transmitiram e que julgo ter sabido cruzar com as múltiplas circunstâncias
da vida, aquela que me fez moldar a personalidade e sobretudo o carácter.
Cristo apresenta-se aos meus olhos de espectador, observador e actor, como o
portador do estandarte, o Homem referência que luta contra as vicissitudes e
contra os desequilíbrios sociais. Cristo é muito mais que a Igreja Católica,
burocrática, conservadora, ostentatória e com muitos preocupantes escândalos de
permeio. Jesus Cristo é muito mais que o Estado do Vaticano e as suas
secretarias de Estado (!). Cristo é muito mais que rezas, pecados, confissões,
dogmas e sucessivos batimentos no peito em sinal de arrependimento. Depois,
Jesus Cristo não pede sofrimento para a libertação, pede amor e honestidade aos
Homens. Portanto, Cristo é a Palavra, cuja narrativa visa humanizar
comportamentos e atitudes a todos os níveis e escalas. Só que, muitas vezes,
interrogo-me, por onde andará, porque tão distraído me parece, face a tanto
atropelo, maldade, terror, fome, miséria e ausência de compaixão. Ele que
transborda amor e que manda rebentar as amarras, como permite os poderes, todos
os poderes, que colocam o homem contra o homem? Acabo por me guiar nas profundas
convicções que a Mensagem traduz, interferindo onde posso e devo, na certeza
que contribuo para uma sociedade melhor. Sinto isso ao fazer, com regularidade, a pergunta: cumpriste?
Esta é, no essencial, a minha relação
com Deus. A do leigo que acredita na utopia como um caminho para a consecução
da fraternidade entre os Homens.
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