A Sónia Silva Franco, escreveu o seguinte texto para a rubrica do Banquete da Palavra «Deus e eu». Obrigado Sónia...
A insaciabilidade de conhecimento tão
característica do ser humano, lançou-nos nesta busca desenfreada de respostas
aos porquês. O Quo Vadis da nossa
existência esteve, desde sempre, ligado a forças superiores. Os homens
primitivos adoravam as forças da Natureza, numa mescla de medo e veneração. A
presença do divino continua a ser uma realidade nos dias de hoje.
A sociedade moderna, tão bem caracterizada pela
investigadora Danièle Hervieu-Léger, não
remeteu para o esquecimento a necessidade premente da religião. Ela continua
presente no nosso quotidiano, nas nossas preces, nas nossas aflições e
principalmente nas nossas dúvidas. Aliás, Leandro Karnal, historiador
brasileiro, explica de forma brilhante esta dicotomia em que, por um lado a
humanidade toma rédeas do seu destino e, por outro, continua presa nas suas
crenças religiosas. É que a ciência, ao contrário do que se julgava, não tem
respostas para todas as questões que assolam o ser humano. A ciência foi
incapaz de resolver os problemas colocados. Ao invés, a religião oferece
respostas para tudo, dando ainda o consolo da imortalidade da alma, tornando
mais fácil a nossa existência perante uma certeza absoluta: a morte. A religião
atua como os “ses” e os “mas” do nosso quotidiano. O conforto em encontrar uma
explicação que dê sentido à vida, à dor, à perda, ao medo, alimenta as
correntes religiosas e seitas da modernidade.
A religiosidade tornou-se mais individualista, numa pessoalização do Divino. Continua-se a pedir proteção a uma entidade superior, sem que para isso seja necessário frequentar as casas religiosas com a assiduidade de outrora. Atrevo-me mesmo a dizer que o Deus tornou-se moderno. Foi “vítima” da modernização da sociedade, nesta busca por respostas e por consolo àquilo que o mundo real, científico, empírico, não consegue resolver.
A religiosidade tornou-se mais individualista, numa pessoalização do Divino. Continua-se a pedir proteção a uma entidade superior, sem que para isso seja necessário frequentar as casas religiosas com a assiduidade de outrora. Atrevo-me mesmo a dizer que o Deus tornou-se moderno. Foi “vítima” da modernização da sociedade, nesta busca por respostas e por consolo àquilo que o mundo real, científico, empírico, não consegue resolver.
Os chamados Povos do
Livro – Judeus, Cristãos e Muçulmanos – partilham o mesmo Deus. São religiões
monoteístas que diferem, entre si, nas diversas conceções religiosas. Por
exemplo, os Judeus não aceitam Cristo como Filho de Deus, enquanto que os
muçulmanos entendem que Jesus foi apenas um profeta, igual a Maomé e recusam-se
a aceitar a trindade cristã. Não há “Pai, Filho e Espírito Santo” no mundo
islâmico. Deus é apenas um. Único. “Não há outra divindade senão Deus e
Muhammad é seu profeta”. Este é o lema que rege todo e qualquer muçulmano.
Para estes três povos,
Deus tem muitos significados: tanto pode ser vingativo, como misericordioso.
Benevolente, supremo, omnipotente, como pode ser castigador e até mesmo
egoísta. Amor e temor são as palavras que melhor caracterizam os sentimentos
dos fiéis em relação a um Deus supremo.
Já nas religiões
politeístas, encontramos na antiga Grécia, por exemplo, a magia do mundo
helenístico, fértil em deuses de todas as formas e feitios. Cada deus tinha a
sua função, os seus seguidores e os seus rituais.
Já no Egipto da
Antiguidade, o culto dos mortos assumia uma importância extrema e vital para a
civilização. Em torno da vida pós-túmulo, em torno dos múltiplos deuses e das
suas exigências, os egípcios tinham toda a sua existência terrena condicionada.
Sobre eles, pendia o julgamento no Além, decisivo para a continuidade da
existência ou desaparecimento imediato. Em vida, o mais comum dos mortais tinha
de obedecer às diretrizes emanadas pelos deuses e tinha de viver de acordo com
as regras que iriam salvar a sua existência após a morte.
Na Índia, temos uma
miscelânea de deuses, à qual os europeus chamaram de Hinduísmo. Na verdade,
temos deuses distintos no panteão indiano e quem adora um, não adora o outro.
Nesta sociedade de castas, o ser humano nasce para morrer e renascer num outro
ser, numa outra condição. Encontramos ainda o Budismo, uma religião sem Deus,
mas com grande expressão nas suas três vias. Para os praticantes desta religião
e, ao contrário dos hindus, é possível o homem romper com o ciclo constante das
transmigrações. Através de muita prática e meditação, esse ciclo pode ser
rompido graças à iluminação que culmina no Nirvana.
Já os gnósticos assumem-se como detentores de um conhecimento superior. Não são fiéis, não precisam de “intermediários” e atingem diretamente esse conhecimento superior.
Já os gnósticos assumem-se como detentores de um conhecimento superior. Não são fiéis, não precisam de “intermediários” e atingem diretamente esse conhecimento superior.
Em todas as religiões,
o Sagrado está presente. Pode ser chamado de Deus ou de Nirvana, mas não deixa
de ser sagrado. O Homem, desde os primórdios dos tempos, refugia-se neste
conceito para encontrar um sentido para a vida e principalmente para a morte. O
medo de ser finito, de tudo acabar com o último suspiro, faz com que o ser
humano tenha nos seus genes a vontade de acreditar em algo superior. Algo que
lhe dê o conforto de que a essência continua algures, mesmo depois de sermos
devolvidos à terra e de nos transformarmos em pó…
Sónia Silva Franco
Sem comentários:
Enviar um comentário