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terça-feira, 2 de maio de 2017

A tolerância de ponto

1. A brincadeira das tolerâncias de ponto para o dia 12 de maio, pela ocasião da vinda do Papa Francisco a Fátima, está produzir pérolas. Já que para nós exista ou não tolerância de ponto a 12 de maio, pelo menos começa a dar para nos divertirmos um pouco. Vejamos esta pérola do Presidente do Governo Regional da Madeira: «não faz sentido. Se estivéssemos num território com continuidade territorial fazia sentido», afirmou Miguel Albuquerque. Não havendo essa tal «continuidade» devemos fazer com que ela exista, é isso que manda as leis. Olhe sr. Presidente, que com pequenos sinais se faz a diferença…

2. Sou contra a tolerância de ponto nesta ocasião e em todas as outras vezes em que ela é feita. Mas, particularmente, neste momento em que se reveste de aproveitamento político e em que sendo o governo de esquerda, devia mostrar a sua coerência e a sua defesa intransigente da laicidade do Estado. Essa coerência do Estado laico deve existir em todos os momentos. E ponto final. Mas sendo declarada por uma razão qualquer deve contemplar todos os portugueses, tanto no continente como nas ilhas. Por isso, Há sim «continuidade territorial» também nas ilhas, porque pode haver portugueses de primeira nem portugueses de segunda. É assim que está consagrado na Constituição Portuguesa e no Estatuto Político da Madeira. Já para não recorrer ao fato de sabermos que são muitos os madeirenses que vão estar presencialmente nestes dias em Fátima.

3. Tudo isto acontece porque se brinca às tolerâncias de ponto a torto e a direito. Nos tempos da famigerada austeridade não havia a nível nacional tolerância de ponto no dia de Carnaval, mas a Madeira, duplamente penalizada pela austeridade, declarava-se tolerância de ponto no Carnaval, contrariando aquilo que o governo nacional determinava. E a tolerância de ponto do rali, que já existe há tantos anos… É esta lógica que não se entende, melhor, até se entende, reparamos que brincam com as pessoas em geral e, particularmente, os funcionários públicos.

4. Mesmo não concordando com esta tolerância de ponto, porque a maioria dos portugueses não irá a Fátima nem muito menos se pode garantir que vão ficar em casa para verem pela televisão. Este argumento só mesmo para rir é que se aceita. As tolerâncias de ponto são também instrumentos bem utilizados pelos governos para agradar a uns (muitos), mas não deixa de um jogo de interesses político partidário que nalguns casos, suja o retrato do acontecimento que se pretende valorizar.

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