«Cá te viste»
É um ditado muito conhecido. O seu sentido é o seguinte: para ser fixada
a ferradura em cavalos e outros animais semelhantes, sem ferir ou assustar o
animal, o ferreiro bate alternadamente com o martelo ora no cravo (prego), ora
na ferradura. Daí o ditado ter entrado na gíria popular para designar as
atitudes dúbias e o equilibrista em cima do muro. É sinal de imparcialidade. Esta
é em situações decisivas para a vida dos outros a pior das atitudes, porque dizer
sim e não simultâneamente ou alternadamente faz mal ao corpo e à alma de tanta
gente.
Não me digam que ter bons propósitos e fazer boas ações e ter maus
propósitos e fazer más ações simultaneamente, virá contrinuir para mover o
mundo e vida? - Nada. Zero.
Qualquer atitude que não seja capaz de ir até ao fim naquilo que se
determina como decisão antecipada, vale pouco e diz muito de quem a pratica.
Toda a atividade que ande assim ao sabor das ondas, levanta sérias dúvidas e
todos sabemos o que pensa o povo sobre este incontornável assunto.
Bem sei que na luta pelo poder a dialética, as posições antagónicas das
várias forças em contenda, é um fenómeno necessário, mas só tolerável até certa
medida. Aliás, bem sei que a coisa não é para seres inocentes e puros, requer
uma ética conveniente que inclui até mesmo falsas atitudes sociais e públicas,
mas se domina a lógica do poder pelo poder não serve para ninguém. Deve ser
combatida essa mentalidade e deve ser colocada no devido lugar. A conquista bem
clara e determinada deve estar ao serviço do bem de todos. E digo mais, quando
alcançado o poder, deve estar para todos, mesmo até para os mais afoitos
adversários.
Não ser capaz de levar até ao fim a sua determinação é o pior que se
pode encontrar numa pessoa. Quando sou confrontado com isso fico deveras
boquiaberto e quiçá inteletualmente enojado que até vomito à maneira do autor
do Apocalipse: «Conheço
as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim,
porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca» (Ap. 3,
15-16).
Uma no cravo e outra na ferradura, até algum tempo vingará, mas não
serve sempre, o povo em geral sabe identificar quem desse alimento se sacia diariamente,
iludido que nunca sofrerá o golpe final.
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