1. Obviamente
que não dirão ao Papa Francisco que o Santuário de Fátima converteu-se num
centro do país e do mundo religioso para onde convergiram um bando enorme de
bispos, padres, frades e freiras, inativos que vivem das ofertas dos peregrinos vindos
de todo o mundo, onde se entretém a rezar terços atrás de terços, promotores do
conservadorismo litúrgico e de uma moral opressiva, porque defensores de fardos
pesados para os fiéis, apologistas dos sacrifícios e do dolorismo em que Fátima
se tornou contra a libertação que o Evangelho de Jesus anuncia face a todas as
formas de opressão que sempre dominaram a humanidade. Jesus foi muito duro com
esses «zeladores» do templo.
2. O Santuário
de Fátima é uma máquina absurda para faturar dinheiro, que alguns (poucos) se
acha ao direito de gerir sem prestar contas a ninguém. Há ali uma «fábrica» da fé
que gera milhões de euros que não sabemos para onde se destinam e que tanta
especulação vai gerando. Aliás esta coisa da transparência não parece entrar na
pastoral da Igreja Portuguesa, basta rezar que do restante alguém se encarrega,
então brinca-se com os bens que são de todos. Basta nos lembrarmos das esmolas
destinadas a determinadas causas que chegam quando alguém entende ao seu
destino e se ninguém se lembrar disso podem até ficar retidas ab aeternum.
Também basta pensar no vasto património abandonado sem nenhuma serventia,
fechado completamente e devoluto, provocando o escândalo da opinião pública em
geral e violando descaradamente a vontade dos beneméritos do passado e do
presente.
3. O Santuário de
Fátima tem o melhor da nossa Igreja Católica Portuguesa, mas tem também o pior.
Um ponto, porque
é um lugar de algum debate, desde que não saia muito dos parâmetros da
ortodoxia, é lugar de encontro fraterno, lugar de recolhimento, onde se
retempera as forças da fé e da esperança. Sim, porque o autor deste texto é
devoto de Maria e reconhece o Seu exemplar testemunho de Mãe de Deus, indo até mais
longe que o discurso oficial, o Seu exemplo apostólico e a Sua dedicação ao
discipulado.
Mas outro ponto
também, é que é um lugar de palavreado inconsequente e retrógrada muitas vezes.
Os poucos «treze de maio» que me fizeram presente neste lugar foram mais que suficientes
para me dar conta do discurso sempre igual, viesse de onde viesse, uma
linguagem anacrónica e longe, muito longe da realidade concreta das centenas de
pessoas que ali se reuniam. É uma pena enorme que um «altar» com esta imensidão
e projeção, não seja aproveitado para fazer valer o empenho de todo o povo na
luta pela justiça e pela igualdade nas nossas sociedades. A nossa militância
católica em Portugal neste momento é quase nula.
É uma pena enorme que um
altar como este não seja aproveitado para fazer valer a dignidade de um povo
que deve estar na linha da frente reclamando os seus direitos e apontado o
caminho da vida para que todos cumpram os seus deveres. Fátima não devia, mesmo
sendo tão importante, ser um lugar para que cada um se fique com o prazer das
emoções momentâneas, o espanto dos milagres, os sacrifícios contra Deus e Maria,
mas que cada um descobrisse que é chamado a acolher a fé na construção da vida
quotidiana, porque dali saiu imbuído da missão de ser melhor e fazer um mundo
melhor. Caso contrário, as seitas religiosas que por aí andam fazem esse
trabalho com mais seriedade e sucesso.
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