1. Para além de todos
os acontecimentos deste fim de semana quer religiosos quer desportivos, a
grande surpresa e o acontecimento mais desconcertante de todos, chama-se
Salvador Sobral. Um jovem que inspira e expira música, porque a «música não
pode ser fogo de artifício», mas puro «sentimento». Ganhou o Festival da
Eurovisão 2017 para Portugal. Gravo. Parabéns, Salvador...
2. Aquele jeito meio
desengonçado em corpo franzino e frágil a interpretar a música «amar pelos
dois», é bem revelador do despojamento e da simplicidade que o Salvador
anuncia. Melhor é impossível.
3. Desde a primeira vez
que ouvi o Salvador Sobral a cantar a canção vencedora, acompanhei-o com muito interesse, mas em silêncio.
Procurei não me manifestar até ver onde ele chegaria. Não deixei de ler e
escutar os enormes elogios que foram surgindo, especialmente, as vozes consagradas
do campo da música. Mas, não deixei também de ir lendo e escutando vozes
carregada de inveja, derrotistas e maldosas a menosprezar o rapaz e a
desclassificar a sua música e interpretação, ao ponto de vir a lume alguns
aspetos da sua vida privada. É sempre a mesma coisa. Uma vez manchada a pessoa,
a mancha acompanha-a para sempre, mesmo que se redima ou se reintegre na vida. Muito
mau este elemento e bem revelador da sociedade maldosa em que vivemos. Porém,
comovei-me a recepção aos irmãos Sobral no aeroporto de Lisboa.
4. O Salvador Sobral e
a sua irmã Luísa Sobral deram uma grande lição ao mundo da música, que
facilmente se verga a estereótipos mercantilistas, sem conteúdo, ruidosos e
vistosos. Também há uma grande lição aos canais de televisão que não se cuidam
nada em apresentar o pior que existe na música nos longos programas das manhãs
e das tardes. Mas a lição também foi dada ao público em geral que se abana e
contorce facilmente, levantando braços e cabeça perante o oceano imenso da
pimbalhada em que converteram a música ligeira portuguesa. Em geral a lição
encaixa que nem uma luva em tudo o que neste país e na Eurovisão tem sido mediocridade
e vontade de dominar as coisas com falcatruas ou manobras sorrateiras, que
envergonhavam a verdadeira música.
5. O Salvador Sobral merecia
vencer e venceu claramente, mostrando que realmente a música é essa linguagem
universal, que quando bem cantada, com «sentimento», como diz o Salvador, vence
todas as «torres de babel» que este mundo levanta por todo o lado, para fazer
valer com isso, a exclusão da seriedade, da simplicidade e da humildade. Estes
valores, que fazem as pessoas que os assumem serem verdadeiramente grandes e
pelo que se vê afinal são reconhecidos. Nunca tinha me emocionado e vertido lágrimas
nos poucos festivais da Eurovisão que acompanhei, mas neste graças ao Salvador,
chorei emocionado com a sua interpretação, com a sustentável leveza da música,
com a mensagem da letra e com as palavras finais do Salvador, onde demonstrou
que em tudo o que se faz na vida sabe bem relativizar e avançar com a mesma
alegria, tenhamos sucesso ou insucesso. Grandes lições de vida nos trouxe este
fim de semana.
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