Cá te viste:
1. Sobre o perdão sabemos que é um valor dos
mais nobres que existe. No Evangelho Jesus radicalizou-o de forma enigmática,
para dizer que devemos perdoar sempre. Está dito assim: «Então Pedro aproximou-se de
Jesus perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando
ele me ofender? Até sete vezes? Jesus respondeu-lhe: "Eu digo-te: - não
até sete, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 21-22). Porém, já antes tinha
advertido noutra passagem: «Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos.
Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Acautelai-vos
dos homens» (Mt 10 , 16-17). Este contrabalançar é interessante. E fica claro que perdoar sim, mas sem ter
que ser estúpido por nenhuma vez.
2. O perdão como se vê quando exercido
em qualquer circunstância é um gesto nobre e essencial para a paz nos corações
e no mundo. Porém, porque sabemos da fragilidade humana e da sua tendência para
a reincidência no mal, devemos, mesmo exercendo o perdão, agir com prudência ou
cautela, para que não nos tome a estupidez nem muito menos ninguém se aproveite
disso para fazer vingar os seus frequentes instintos malévolos. Não quero com
isto dizer que nenhum crime ou mal merece perdão, pelo contrário, merece sim
senhor, mas nada pode ser como dantes depois do mal ter sido feito. A prudência
é boa conselheira.
3. A consciência entre o ter que perdoar
e a estupidez anda numa fronteira muito ténue, alguns autores pensaram nisso,
por exemplo, Friedrich Schiller: «contra a
estupidez os próprios deuses lutam em vão». Há um dado curioso que devemos
registar, passamos do tempo em que se gritava que não havia valores, para o tempo
da confusão geral dos valores. Tanto pode ser perdoar, mas trair ao mesmo
tempo, tanto pode ser gabar-se da sua dignidade, mas mergulhar na mais profunda
alienação e manipulação e ainda, tanto pode ser que antes se tenha vivido o
pior do mundo com esta ou aquela pessoa, mas à conta de uma dependência
estúpida, mesmo correndo-se o risco de tudo se repetir novamente, encetam-se os
mesmos caminhos e fazem-se as mesmas opções. Viva o tempo novo em que o mais
inverosímil acontece e ninguém tem que se admirar com isso, porque cada um
acha-se dono de si e quiçá do mundo inteiro. Estúpida ilusão.
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