Deus e eu. Esta semana um texto um pouco longo, mas certeiro, esclarecedor, profundo e cheio de informação muito importante sobre a questão: Deus. Pela pena de um médico, José Júlio... Licenciado em Ciências Farmacêuticas,
encontra-se aposentado. Este profissional tem grande experiência
também na administração, já que lançou na Madeira os pilares do Madeira Medical
Center, que ajudou a fundar e a dirigir.
Pedir a um confesso ateu e agnóstico que
fale da sua relação com Deus pode parecer, à primeira vista, incongruente. Foi
esse, no entanto, o desafio que me foi lançado. Vou responder o melhor que
posso e sei.
A lógica e as boas práticas mandam,
quando se pretende estudar seja que objecto de estudo for, que se comece por
definir o objecto do estudo.
Comecemos, então. Eu sou um ser humano
adulto, do sexo masculino, provavelmente no último terço da minha vida, instruído,
educado, que pretende ser sério e honesto em todas as circunstâncias tanto
quanto lhe permitem as humanas forças.
E Deus? Sendo ateu e agnóstico e
honesto, sinto-me na necessidade de procurar esclarecimentos nos textos e nas
fontes que dele tratam. Vivendo num país que se autodenomina católico, nada
melhor do que compulsar os textos sagrados da religião cristã.
Antes, mesmo, de iniciar a minha
pesquisa acerca da natureza e da existência de Deus, confronto-me com o facto
de a Bíblia católica considerar néscio quem, como eu, se reclama de ateísmo
(Salmos 14:1 “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. (…)”).
Ultrapassando esse constrangimento,
continuemos, sem pretender ser exaustivos. Para começar, a Bíblia considera a
existência de Deus anterior aos tempos, Deus existe desde o princípio (Genesis
1:1 “No princípio criou Deus o céu e a terra.”). É, portanto, Deus (o Deus da
Bíblia) o Ser Supremo, o Criador, o Regente de tudo o que existe. Além disso, é
espírito (logo incorpóreo) e intangível por natureza (João 4:24) o que, por
definição, nos devia desencorajar de continuar o estudo…
Uno, embora em três pessoas distintas (o
Quarto Concílio de Latrão declarou, "é o Pai quem gera, o Filho quem é
gerado e o Espírito Santo quem realiza") como se pode ler em Mateus
3:16-17.
Imortal e infinito (1 Timóteo 1:17);
incomparável (2 Samuel 7:22); grande (Malaquias 1:5) um grande rei cujo nome é
temível entre as nações (Malaquias 1:14); que existe em todos os lugares
(Salmos 139:7-12); omnisciente (Mateus 11:21); possuidor de todo o poder e
autoridade (Efésios 1:19-22; Apocalipse 19:6); justo (Actos 17:31); amoroso
(Efésios 2:4-5); julga o pecador (Salmos 5:5) mas oferece perdão (Salmos
130:4); encarnou na pessoa humana do filho (João 1:14) e o filho de Deus se tornou
filho do homem (João 14:6, 1 Timóteo 2:5).
Poderíamos continuar. Deixemo-nos ficar
por aqui. Já reunimos suficientes características de Deus para poder dele fazer
uma ideia. Pelo menos do Deus das religiões abraâmicas (em especial nas
religiões ocidentais). A divindade central do Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo. Noutras culturas e religiões (e, também, noutros tempos) a ideia da
existência e o modo de compreender os deuses – mesmo quando há uma perspectiva
monoteísta – assumiram e assumem visões significativamente distintas.
O mesmo se pode dizer de praticamente
todas as sociedades e grupos pré-abraâmicos (ou, mesmo, em pequenos grupos
contemporâneos isolados) desde as primitivas formas de crença pré-clássicas até
aos dogmas de várias religiões modernas.
Deus, incorpóreo, intangível, com
personalidade divina e justa. Fonte de todas as obrigações morais.
São Jetrónimo – em latim Eusebius
Sophronius Hieronymus; em grego: Εὐσέβιος Σωφρόνιος Ἱερώνυμος), também
conhecido por Jerônimo de Estridão, 347-420 - destacado teólogo, historiador e
Doutor da Igreja Católica, tradutor da Bíblia para o latim (conhecida como
Vulgata) e autor de reconhecidos comentários sobre o Evangelho dos Hebreus,
traduziu a palavra hebraica “Elohim” (em hebraico: אלהים) plural da palavra
“Eloah” (אלוה) ( considerado pelos estudiosos judeus como plural majestático
traduzindo por "Elevadíssimo" ou "Altíssimo") pelo singular
“Deus” o que até hoje é objecto de acesas controvérsias.
São Tomás de Aquino (em italiano Tommaso
d'Aquino - Roccasecca, 1225 - Fossanova, 7 de março de 1274), frade da Ordem
dos Pregadores (dominicano) cujas obras tiveram enorme influência na teologia e
na filosofia (tradição Escolástica) designou Deus por “deus absconditus”, Deus
absconso ou escondido. Também o fizeram São Paulo e Martinho Lutero. Refere uma
divindade cuja existência não é prontamente reconhecida nem através da
contemplação nem por observação directa das suas acções. Um Deus que,
conscientemente, terá abandonado este mundo que criou para ocultar-se num lugar
escuso.
Heloim também designado Yahweh, ou
Adonay na cultura judaica, representado pelo tetragrama YHVH, o impronunciável
nome de Deus.
Deus “leitmotv” do henoteísmo (do grego hen theos, "um
deus") termo criado pelo orientalista e estudioso das religiões Max Müller
(1823-1900) para designar a crença em um deus único, mesmo aceitando a
existência possível de outros deuses.
Em relação a esse conceito são,
habitualmente. Assumidas quatro posições ideológicas: Teísmo, Teísmo Gnóstico,
Agnosticismo e Ateísmo. Partilho as duas últimas: não creio que seja possível
provar racionalmente e cientificamente a existência e Deus ou a sua não
existência; nego a existência das divindades quanto a ausência da crença na sua
existência.
Então, qual a minha relação com Deus?
Considero que Deus (por extensão, os deuses) é fundamental na existência
humana. O conceito e não a mera existência ou ausência dela. O
culto de Deus, os cultos das divindades são uma realidade universal e
intemporal. Considero que a existência de Deus (dos deuses) é apenas sustentada
pela fé. Sei que a fé é uma das forças que move a humanidade e como tal de
extrema importância.
Deus é a extrapolação do grandioso no
homem, o refúgio ideal para quem sofre, a última esperança para quem não tem
refúgio.
A religião (as religiões), para além da
sua função derivada da etimologia da palavra, do latim, “religio” que designava
"respeito", "reverência" que por sua vez deriva de
“relegere”, em que re-, "de novo" associado ao verbo “legere”,
"ler", abrigando o sentido de "tomar com atenção",
significa que uma pessoa vive a religião quando cuida escrupulosamente de algo
muito importante, algo que deve ser cultuado, é um dos meus objectos de estudo
mais profundos e gratificantes.
Eu que sou um produto da minha humanidade.
José Júlio, médico aposentado
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