1. Tenho acompanhado com algum interesse
tudo o que se vai dizendo por aí, a favor e contra o êxodo de venezuelanos
madeirenses. A todos nós este regresso diz-nos respeito de alguma forma e vai
lançar-nos uma série de desafios.
2. Os discursos incendiários que vamos
assistindo contra as ajudas que os governos - nacional e regional –
supostamente venham a disponibilizar, trazem o mesmo veneno xenófobo e racista,
que ouvimos contra os refugiados que fugiam das guerras do Médio Oriente. O mal
não está em quem precisa de ajuda perante uma urgência e nessas circunstâncias
não podem existir condições para que a ajuda se faça. O mal está em quem não
olha a circunstâncias para ser desumano e aproveitar para escorrer veneno e
outras porcarias sem ter em conta o sofrimento da desgraça alheia. Mas quando
está aflito deve tomar a dianteira para implorar compaixão.
3. Obviamente, que em relação aos
emigrantes da Venezuela, não esqueço a vaidade e gozo de tantos quando chegavam
aqui cheios de notas que gastavam desmedidamente em foguetes, em casas enormes
e feias por essa Madeira dentro, que tanto descaraterizaram a paisagem da nossa
terra. Não são eles os únicos culpados disso, os de cá também
são. Não esqueço aquele sotaque irritante, meio madeirense meio venezuelano,
que tudo e a todos tratava por «mira» e por «essa banha». Também não esqueço as
falcatruas que alguns fizeram em termos de bens patrimoniais contra os
madeirenses seus familiares que não deixaram a Madeira, só porque estes tinham
dinheiro à fartazana. Tanta coisa que me lembro e que nos humilhava e que até
nos pode fazer pensar que contributos deram esses tais madeirenses que
abandonaram a Madeira à procura de fortuna? Que investimentos fizeram que
gerasse riqueza e emprego na nossa terra? – Estas e entre outras perguntas legítimas
que podem vir à balha agora. Mas, que não devem cegar-nos a humanidade e o
sentido da partilha, da amizade e da solidariedade perante as urgências. A
humanidade deve prevalecer perante todos os condicionalismos do mundo.
4. Por isso, nesta hora o que deve estar
em causa é que somos chamados a receber Venezuelanos que passam por
dificuldades e que estão numa situação de emergência. É isso que nos deve mover,
fora de condições tolas, receber de coração aberto quem chega. Não nos falta
espaço e precisamos que entrem pessoas, para que engrossem de sangue novo a
nossa frágil população envelhecida e carente de crianças. Tomara que fossem
povoadas tantas freguesias da nossa terra, que pouco falta para se tornaram
lugares fantasmas.
5. Não é hora de xenofobias
nem muito menos a hora de acerto de contas. Não nos compete fazer isso, porque
nós madeirenses várias vezes fomos sabendo o que é estar em situação de emergência
e necessitados de solidariedade. Não estamos muito longe disso. Por isso, de
acordo com as nossas possibilidades, agora chegou a hora do acolhimento e da
solidariedade com aqueles que precisam de nós. Embora isso não seja condição, mas
se ajudar a quebrar as investidas da maldade, pois então pensemos que nestes
venezuelanos que necessitam de ajuda, escorre nas suas veias sangue madeirense.
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