Mesa da Palavra
31°
Domingo do Tempo Comum - Ano B
A liturgia do 31°
Domingo do Tempo Comum diz-nos que o amor é central na vida cristã. Acreditar,
significa, em cada momento da vida fazer a experiência do amor a Deus e aos
outros, os nossos próximos.
Esta conclusão é fácil
de tirarmos se olhamos os textos bíblicos com atenção. Mas, lá que nos
confronta com um desafio muito difícil, isso sim...
A Bíblia parece desde
logo desejar que as coisas fiquem bem claras, quando afirma: «Se alguém disser:
“Eu amo a Deus”, mas odiar a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama o seu
irmão ao qual vê, como pode amar a Deus, que não vê?» (1 Jo 4, 20). No entanto,
mesmo perante esta frase tão clara, somos levados a lançar as seguintes
questões: como amar a Deus que não vemos? E como amar o próximo (os outros) se
desde logo encontramos imensas razões para não depositarmos confiança em
ninguém e por isso poucas ou quase nenhuma pessoa à nossa volta merece o nosso
amor?
Vejamos então. É
possível a amar a Deus, que não vemos com os olhos da nossa cara… - Deus faz
parte da transcendência e do Mistério. Nós também fazemos parte dessa realidade
transcendente e misteriosa, na qual fomos envolvidos pelo dom da existência que
nos foi dado. Se nos aceitamos e nos amamos, acolhemos e amamos um mistério.
Deus está nesse mistério que amamos e acolhemos. Amar toda essa realidade é
possível. Logo a seguir somos convidados a acolher e amar todos os que a vida
deste mundo nos permite conhecer e com quem temos a necessidade de estabelecer
convivência fraterna, relação humana.
Jean Paul Sartre dizia:
«o inferno são os outros». A doutrina cristã e a
filosofia personalista ensinará que, afinal, os outros podem ser «uma graça»,
um dom que sem os quais nós seremos os mais tristes de todos. Emmanuel Mounier,
o mais famoso personalista afirma: «Se a vocação suprema da pessoa é
divinizar-se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente
personalizando o mundo, o seu Pão quotidiano não é mais penar ou se divertir,
ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si».
Jesus
aponta o amor a Deus que só terá sentido pleno traduzido nos outros, os nossos
próximos. Jesus proclama claramente que ninguém será feliz sozinho nem muito
menos se salvará isoladamente. Somos comunidade, exactamente, como Deus é.
«Os Outros» são todos aqueles que estão, voluntária ou involuntariamente, além
de nós, «servem» para revelarem de nós a nós mesmos. Esta é já uma grande
tarefa que não devemos descorar de forma nenhuma. Algumas vezes, mesmo
sufocados pela indesejada presença do outro, assola-nos o temor de magoar, provocar
rupturas, ferir e, contra a nossa vontade, os toleramos ou suportamos.
O que nos vai levar a considerar os outros um inferno será a nossa
incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas e os defeitos humanos. A
convivência poderá ser angustiante. O radical existencialismo ateu sartriano
não nos deixou outra possibilidade. Mas, Jesus colocando o sentido do ser
cristão no amor a Deus e ao próximo (os outros), pede-nos que sem o mínimo de
boa-vontade e de esforço para a abertura de espírito para acolher e compreender
os males que acompanham os outros – que maiormente, são também o reflexo de nós
mesmos - nunca será possível a mínima relação de saudável convivência.
Nos nossos tempos esta redescoberta do amor a Deus e aos outros, torna-se
uma desafio muito importante e se quisermos urgente, porque a desorientação é
muito grande, as necessidades básicas estão a faltar a muitas das nossas
famílias. Os dois mandamentos que
Jesus reafirma e completa, não podem separar-se: «amar a
Deus» é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações fraternais
de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida.
Atitudes que hoje ganham uma exigente necessidade.
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