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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Deus e os outros


Mesa da Palavra
31° Domingo do Tempo Comum - Ano B

A liturgia do 31° Domingo do Tempo Comum diz-nos que o amor é central na vida cristã. Acreditar, significa, em cada momento da vida fazer a experiência do amor a Deus e aos outros, os nossos próximos.
Esta conclusão é fácil de tirarmos se olhamos os textos bíblicos com atenção. Mas, lá que nos confronta com um desafio muito difícil, isso sim...
A Bíblia parece desde logo desejar que as coisas fiquem bem claras, quando afirma: «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas odiar a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama o seu irmão ao qual vê, como pode amar a Deus, que não vê?» (1 Jo 4, 20). No entanto, mesmo perante esta frase tão clara, somos levados a lançar as seguintes questões: como amar a Deus que não vemos? E como amar o próximo (os outros) se desde logo encontramos imensas razões para não depositarmos confiança em ninguém e por isso poucas ou quase nenhuma pessoa à nossa volta merece o nosso amor?
Vejamos então. É possível a amar a Deus, que não vemos com os olhos da nossa cara… - Deus faz parte da transcendência e do Mistério. Nós também fazemos parte dessa realidade transcendente e misteriosa, na qual fomos envolvidos pelo dom da existência que nos foi dado. Se nos aceitamos e nos amamos, acolhemos e amamos um mistério. Deus está nesse mistério que amamos e acolhemos. Amar toda essa realidade é possível. Logo a seguir somos convidados a acolher e amar todos os que a vida deste mundo nos permite conhecer e com quem temos a necessidade de estabelecer convivência fraterna, relação humana.
Jean Paul Sartre dizia: «o inferno são os outros». A doutrina cristã e a filosofia personalista ensinará que, afinal, os outros podem ser «uma graça», um dom que sem os quais nós seremos os mais tristes de todos. Emmanuel Mounier, o mais famoso personalista afirma: «Se a vocação suprema da pessoa é divinizar-se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente personalizando o mundo, o seu Pão quotidiano não é mais penar ou se divertir, ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si».
Jesus aponta o amor a Deus que só terá sentido pleno traduzido nos outros, os nossos próximos. Jesus proclama claramente que ninguém será feliz sozinho nem muito menos se salvará isoladamente. Somos comunidade, exactamente, como Deus é.
«Os Outros» são todos aqueles que estão, voluntária ou involuntariamente, além de nós, «servem» para revelarem de nós a nós mesmos. Esta é já uma grande tarefa que não devemos descorar de forma nenhuma. Algumas vezes, mesmo sufocados pela indesejada presença do outro, assola-nos o temor de magoar, provocar rupturas, ferir e, contra a nossa vontade, os toleramos ou suportamos.
O que nos vai levar a considerar os outros um inferno será a nossa incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas e os defeitos humanos. A convivência poderá ser angustiante. O radical existencialismo ateu sartriano não nos deixou outra possibilidade. Mas, Jesus colocando o sentido do ser cristão no amor a Deus e ao próximo (os outros), pede-nos que sem o mínimo de boa-vontade e de esforço para a abertura de espírito para acolher e compreender os males que acompanham os outros – que maiormente, são também o reflexo de nós mesmos - nunca será possível a mínima relação de saudável convivência.
Nos nossos tempos esta redescoberta do amor a Deus e aos outros, torna-se uma desafio muito importante e se quisermos urgente, porque a desorientação é muito grande, as necessidades básicas estão a faltar a muitas das nossas famílias. Os dois mandamentos que Jesus reafirma e completa, não podem separar-se: «amar a Deus» é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações fraternais de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida. Atitudes que hoje ganham uma exigente necessidade.

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