Comentário à Missa do próximo domingo
I domingo do Advento - Ano C
É
este o Tempo do Advento, aquele tempo que nos prepara para o encontro com o
homem, empoeirado, de barbas raladas e grandes, passando ao lado de um rio, que
está ali diante de todos nós. E Ele da outra margem faz-nos um aceno afetuoso,
certo que em nós existe abertura suficiente para acolher uma graça, um dom ou
uma possibilidade de redenção. É isso o Natal.
O
Tempo do Advento, são as quatro semanas que antecedem o Natal. Uma das palavras
fortes deste tempo, é a palavra vigiar e de preparação para uma vinda, uma
chegada de alguém que vem aos nosso encontro, revelar-nos a salvação e o
caminho melhor que nos conduz à felicidade.
As
palavras «vigiar e vinda» são interessantes, porque nos convidam a olhar a
realidade da vida e do mundo com esperança, como algo seguro que nos mostra uma
luz verdadeira, nem que seja ao fundo túnel desta existência carregada de
tantos pesadelos difíceis de encarar. Eles são a crise, a austeridade, o
desemprego, o empobrecimento, a fome e tudo o que nos rodeia de menos bom que
não abre horizontes razoáveis para o futuro de todos nós, especialmente, as
crianças e os jovens. Porém, nada pode ser o fim, está sempre lá no fundo a luz
da salvação, basta confiar e acreditar na pessoa que nos aponta nessa direção,
Jesus Cristo.
Este
é o tempo da expectativa do «ainda não», mas que nos remete para a certeza do
«já» presente na história. Neste contrabalançar expectante, descortinamos vias
de possibilidades sempre novas que nos conduzem ao nascimento da vida em cada
pessoa que não hesita em abrir-se ao sublime da vida transcendente. Essa é a
vida revelada pelo nascimento do Filho de Deus.
Neste
tempo de preparação vigilante, somos chamados a dizer não a tudo o que ofusca a
luz. Não a todo o género de violência, a todo o desrespeito pelos outros, às
crises que nos cerceiam a liberdade e nos remetem para o medo do futuro, não aos
gastos desnecessários para o Natal, não ao individualismo e ao carreirismo tolo
que gera muita injustiça, não à veneração do ego como valor da atividade
frenética que caracteriza o nosso tempo, não à espiritualidade privatizada e
solitária... Eis o tempo em que devemos procurar uma luz que nos torne mais
solidários, mais amigos uns dos outros. Porque, o Natal, ou faz da humanidade
uma família ou nunca passará de uma festa que enche o olhos e nada mais. Que
este tempo nos faça tomar a sério a sabedoria africana que diz: «Uma pessoa
torna-se pessoa através de outras pessoas». A vigilância e a espera da vinda
devem levar-nos sempre à construção do Bem-Comum.
1 comentário:
Bom dia!
Gostei desta reflexão.
"...Eis o tempo em que devemos procurar uma luz que nos torne mais solidários, mais amigos uns dos outros. ...".
Entendo o que quer dizer, e acrescento que deveriamos ser mais amigos uns dos outro duarnte todos os dias da nossa existência. Caso contrário o Natal deixa de ser uma Festa Cristã, transformando-se numa festa do consumismo.
Permita-me deixar aqui uma oração muito bonita, não é da minha autoria.
"Senhor Jesus, às portas do Advento, já começámos a pensar o Teu Natal.
Às vezes, tantas vezes, não apetece mesmo nada.
Bem sabes como temos transformado a Tua vinda.
Um presente e mais outro. E outro ainda ...
Qualquer rua parece um pesadelo, um espaço virtual de ruído e de brilhos agressivos.
Não temos frio e não é o calor que nos envolve.
Não conseguimos sequer ver quem passa ao nosso lado...
Menino-Deus, Menino humilde, nascido na noite e fora da cidade, sei que é assim que este ano vais nascer.
É por causa da crise?
Ou é porque nos fizemos tão sozinhos e a dor cresce em qualquer espaço?
Por Tua graça, segreda-nos, Senhor, o gesto de preparar o Teu lugar.
Havemos de ouvir por toda a parte palavras como «Vida» e «Alegria»,
palavras como «Amor» e «Amizade».
Talvez em cada dia um gesto solidário e sem notícia.
Um gesto ao Teu jeito.
Gesto que há-de ser gesto de encontro,
gesto perto,
gesto que em qualquer noite e em qualquer espaço há-de dizer que para todos vais chegar. "
Ámen
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