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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A vigilância e a vinda

Mesa da Palavra
Comentário à Missa do próximo domingo
I domingo do Advento - Ano C
É este o Tempo do Advento, aquele tempo que nos prepara para o encontro com o homem, empoeirado, de barbas raladas e grandes, passando ao lado de um rio, que está ali diante de todos nós. E Ele da outra margem faz-nos um aceno afetuoso, certo que em nós existe abertura suficiente para acolher uma graça, um dom ou uma possibilidade de redenção. É isso o Natal.
O Tempo do Advento, são as quatro semanas que antecedem o Natal. Uma das palavras fortes deste tempo, é a palavra vigiar e de preparação para uma vinda, uma chegada de alguém que vem aos nosso encontro, revelar-nos a salvação e o caminho melhor que nos conduz à felicidade.
As palavras «vigiar e vinda» são interessantes, porque nos convidam a olhar a realidade da vida e do mundo com esperança, como algo seguro que nos mostra uma luz verdadeira, nem que seja ao fundo túnel desta existência carregada de tantos pesadelos difíceis de encarar. Eles são a crise, a austeridade, o desemprego, o empobrecimento, a fome e tudo o que nos rodeia de menos bom que não abre horizontes razoáveis para o futuro de todos nós, especialmente, as crianças e os jovens. Porém, nada pode ser o fim, está sempre lá no fundo a luz da salvação, basta confiar e acreditar na pessoa que nos aponta nessa direção, Jesus Cristo.
Este é o tempo da expectativa do «ainda não», mas que nos remete para a certeza do «já» presente na história. Neste contrabalançar expectante, descortinamos vias de possibilidades sempre novas que nos conduzem ao nascimento da vida em cada pessoa que não hesita em abrir-se ao sublime da vida transcendente. Essa é a vida revelada pelo nascimento do Filho de Deus.
Neste tempo de preparação vigilante, somos chamados a dizer não a tudo o que ofusca a luz. Não a todo o género de violência, a todo o desrespeito pelos outros, às crises que nos cerceiam a liberdade e nos remetem para o medo do futuro, não aos gastos desnecessários para o Natal, não ao individualismo e ao carreirismo tolo que gera muita injustiça, não à veneração do ego como valor da atividade frenética que caracteriza o nosso tempo, não à espiritualidade privatizada e solitária... Eis o tempo em que devemos procurar uma luz que nos torne mais solidários, mais amigos uns dos outros. Porque, o Natal, ou faz da humanidade uma família ou nunca passará de uma festa que enche o olhos e nada mais. Que este tempo nos faça tomar a sério a sabedoria africana que diz: «Uma pessoa torna-se pessoa através de outras pessoas». A vigilância e a espera da vinda devem levar-nos sempre à construção do Bem-Comum.

1 comentário:

PR disse...

Bom dia!
Gostei desta reflexão.

"...Eis o tempo em que devemos procurar uma luz que nos torne mais solidários, mais amigos uns dos outros. ...".

Entendo o que quer dizer, e acrescento que deveriamos ser mais amigos uns dos outro duarnte todos os dias da nossa existência. Caso contrário o Natal deixa de ser uma Festa Cristã, transformando-se numa festa do consumismo.

Permita-me deixar aqui uma oração muito bonita, não é da minha autoria.

"Senhor Jesus, às portas do Advento, já começámos a pensar o Teu Natal.
Às vezes, tantas vezes, não apetece mesmo nada.

Bem sabes como temos transformado a Tua vinda.
Um presente e mais outro. E outro ainda ...
Qualquer rua parece um pesadelo, um espaço virtual de ruído e de brilhos agressivos.
Não temos frio e não é o calor que nos envolve.
Não conseguimos sequer ver quem passa ao nosso lado...

Menino-Deus, Menino humilde, nascido na noite e fora da cidade, sei que é assim que este ano vais nascer.
É por causa da crise?
Ou é porque nos fizemos tão sozinhos e a dor cresce em qualquer espaço?

Por Tua graça, segreda-nos, Senhor, o gesto de preparar o Teu lugar.
Havemos de ouvir por toda a parte palavras como «Vida» e «Alegria»,
palavras como «Amor» e «Amizade».

Talvez em cada dia um gesto solidário e sem notícia.
Um gesto ao Teu jeito.

Gesto que há-de ser gesto de encontro,
gesto perto,
gesto que em qualquer noite e em qualquer espaço há-de dizer que para todos vais chegar. "

Ámen