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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Desafios da homilia de D. António Carrilho no Corpo de Deus

Corpo de Deus, Sé do Funchal, 15 junho de 2017
1. A mensagem que fica da celebração do Corpo de Deus do ano de 2017, destaco-a da homilia do Bispo do Funchal, D. António Carrilho, por ocasião da sua homilia. Há uma boa parte que consiste em palavra de circunstância, relevando a explicação sobre a Eucaristia, o Corpo de Deus, pão e vinho, que na Eucaristia passam a ser Carne e Sangue de Cristo, pão vivo descido do céu e os 500 anos da Sé do Funchal…
 
2. Vamos ao sumo mais ou menos novo e surpreendente se quisermos. Uma breve explanação sobre a Igreja condensa-se nesta chamada de atenção: «A Igreja é chamada a ser o rosto de Cristo neste tempo». Fica o desafio para todos e que todos possam ser esse «rosto», mas que todos possam também ver claro em quem tem mais responsabilidade, que reflete em primeiro lugar «o rosto de Cristo» com a sua prática concreta. Está lançado o desafio, vamos lá não esquecer que Cristo precisa de rosto e que todos e cada um pode ser esse «rosto neste tempo». No fundo, deve este desafio fazer jus e completar a outra máxima bíblica: «a fé sem obras é morta» (Tiago 2, 14-26).

3. Escutemos esta frase: «A Eucaristia tem sempre um carácter e compromisso social, que é uma exigência de comunhão com os outros. E a Igreja porque vive da Eucaristia é chamada a saciar as novas sedes e fomes da humanidade, oferecendo o dom da alegria, da amizade, enfim, a intensificar a solidariedade, a fraternidade neste tempo de profundas mutações». É um desafio interessante e que merece ser aqui reproduzido, para que toda a Igreja diocesana do Funchal comece a considerar que a Eucaristia sem carne, sem vida, sem pessoas, simplesmente não existe. Perante mais este desafio desmoronam as manias patéticas que às vezes parece menosprezar e desqualificar quem procura viver a Eucaristia nesse compromisso social com verdadeira militância, procurando «a humanidade que sente fome e sede». Referiu o prelado. Mas, tomara que o sentido da fraternidade e da amizade, aqui tão bem salientados, fossem o alimento da Igreja hierarquia que se gosta de considerar «rosto de Cristo». Infelizmente, ainda não é assim.  

4. Mas melhor é o seguinte pronunciamento da homilia de D. António Carrilho. Escutemos: «Aquele que encontra Cristo, não pode deixar de dizer como São Paulo, “para mim viver é Cristo”, quando o encontra em toda a sua extensão e profundidade, descobrimos a dignidade de cada pessoa, aprendemos o respeito pelo outro, ousamos ir ao encontro de todos sem fazer exceção de pessoas, aproximamo-nos das feridas dos nossos contemporâneos e como o Samaritano da parábola de São Lucas, procuraremos deitar sobre as feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança e crescerá em nós a generosidade e a gratidão – valores tão necessários nos nossos dias». Vem muito a calhar esta reflexão do Bispo do Funchal, porque ainda recentemente soubemos, pela comunicação social, que algumas coisas não ficariam bem para ninguém se tivessem seguido para diante, por exemplo, alienar património em segredo destinado à vida de luxo de alguns. Também só falta entre nós uma pastoral de conjunto mais visível, no campo dos mais necessitados, por exemplo, os sem abrigo, como neste passo da homilia foi aludido, porque nesse domínio ainda não se viu grande empenho e vontade para se dar passos largos nesse sentido. Não têm faltado propostas e disponibilidade de algumas pessoas para ir ao encontro e estarem nas periferias.

5. Por isso, conclui-se a nossa atenção e registo da homilia do prelado diocesano do Funchal com a seguinte declaração desafio para todos: «O amor solidário que dimana da Eucaristia lança-nos nos caminhos das periferias existenciais, numa atenção vigilante de ajuda aos mais pobres, aos doentes, aos desempregados, aos sem abrigo, às vítimas da injustiça e da violência, do terrorismo e da guerra, das calamidades naturais, enfim, a todos aqueles irmãos e irmãs que Deus ama e que a nossa sociedade descartável, como costuma dizer o Papa Francisco, tantas vezes esquece». Concluiu. Vamos a isto, para que não fiquem apenas mais palavras, fazendo-se valer afinal o esquecimento, os calculismos, os adiamentos… Entretanto o sofrimento marca a ordem e a vida do dia de tanta gente jogada no chão da indiferença, que tem falado mais alto do que todos os discursos e homilias da sociedade inteira.

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