Corpo de Deus, Sé do Funchal, 15 junho de 2017
1. A mensagem que fica da celebração do
Corpo de Deus do ano de 2017, destaco-a da homilia do Bispo do Funchal, D.
António Carrilho, por ocasião da sua homilia. Há uma boa parte que consiste em
palavra de circunstância, relevando a explicação sobre a Eucaristia, o Corpo de
Deus, pão e vinho, que na Eucaristia passam a ser Carne e Sangue de Cristo, pão
vivo descido do céu e os 500 anos da Sé do Funchal…
2. Vamos ao sumo mais ou menos novo e surpreendente
se quisermos. Uma breve explanação sobre a Igreja condensa-se nesta chamada de
atenção: «A Igreja é chamada a ser o rosto de Cristo neste tempo». Fica o
desafio para todos e que todos possam ser esse «rosto», mas que todos possam
também ver claro em quem tem mais responsabilidade, que reflete em primeiro
lugar «o rosto de Cristo» com a sua prática concreta. Está lançado o desafio,
vamos lá não esquecer que Cristo precisa de rosto e que todos e cada um pode
ser esse «rosto neste tempo». No fundo, deve este desafio fazer jus e completar
a outra máxima bíblica: «a fé sem obras é morta» (Tiago 2, 14-26).
3. Escutemos esta frase: «A Eucaristia
tem sempre um carácter e compromisso social, que é uma exigência de comunhão
com os outros. E a Igreja porque vive da Eucaristia é chamada a saciar as novas
sedes e fomes da humanidade, oferecendo o dom da alegria, da amizade, enfim, a
intensificar a solidariedade, a fraternidade neste tempo de profundas
mutações». É um desafio interessante e que merece ser aqui reproduzido, para que
toda a Igreja diocesana do Funchal comece a considerar que a Eucaristia sem
carne, sem vida, sem pessoas, simplesmente não existe. Perante mais este
desafio desmoronam as manias patéticas que às vezes parece menosprezar e desqualificar
quem procura viver a Eucaristia nesse compromisso social com verdadeira
militância, procurando «a humanidade que sente fome e sede». Referiu o prelado.
Mas, tomara que o sentido da fraternidade e da amizade, aqui tão bem
salientados, fossem o alimento da Igreja hierarquia que se gosta de considerar
«rosto de Cristo». Infelizmente, ainda não é assim.
4. Mas melhor é o seguinte
pronunciamento da homilia de D. António Carrilho. Escutemos: «Aquele que
encontra Cristo, não pode deixar de dizer como São Paulo, “para mim viver é
Cristo”, quando o encontra em toda a sua extensão e profundidade, descobrimos a
dignidade de cada pessoa, aprendemos o respeito pelo outro, ousamos ir ao
encontro de todos sem fazer exceção de pessoas, aproximamo-nos das feridas dos
nossos contemporâneos e como o Samaritano da parábola de São Lucas,
procuraremos deitar sobre as feridas o óleo da consolação e o vinho da
esperança e crescerá em nós a generosidade e a gratidão – valores tão
necessários nos nossos dias». Vem muito a calhar esta reflexão do Bispo do
Funchal, porque ainda recentemente soubemos, pela comunicação social, que
algumas coisas não ficariam bem para ninguém se tivessem seguido para diante,
por exemplo, alienar património em segredo destinado à vida de luxo de alguns.
Também só falta entre nós uma pastoral de conjunto mais visível, no campo dos
mais necessitados, por exemplo, os sem abrigo, como neste passo da homilia foi
aludido, porque nesse domínio ainda não se viu grande empenho e vontade para se
dar passos largos nesse sentido. Não têm faltado propostas e disponibilidade de
algumas pessoas para ir ao encontro e estarem nas periferias.
5. Por isso, conclui-se
a nossa atenção e registo da homilia do prelado diocesano do Funchal com a
seguinte declaração desafio para todos: «O amor solidário que dimana da
Eucaristia lança-nos nos caminhos das periferias existenciais, numa atenção
vigilante de ajuda aos mais pobres, aos doentes, aos desempregados, aos sem
abrigo, às vítimas da injustiça e da violência, do terrorismo e da guerra, das
calamidades naturais, enfim, a todos aqueles irmãos e irmãs que Deus ama e que
a nossa sociedade descartável, como costuma dizer o Papa Francisco, tantas
vezes esquece». Concluiu. Vamos a isto, para que não fiquem apenas mais
palavras, fazendo-se valer afinal o esquecimento, os calculismos, os adiamentos…
Entretanto o sofrimento marca a ordem e a vida do dia de tanta gente jogada no
chão da indiferença, que tem falado mais alto do que todos os discursos e
homilias da sociedade inteira.
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