1. As
calamidades sucedem-se cada vez mais agressivas e fatais para as pessoas. A
humanidade cada vez se vê mais frágil. A existência assenta sobre um chão
quebradiço que perante qualquer falha natural ou de outra ordem faz vacilar a
humanidade na tragédia. Um drama que nos acompanha sempre. Temos pés de barros.
2. É com imensa
surpresa que as contingências dos nossos tempos ditem que não parece valer a
pena tirar ilações e lições para que se encetem outros comportamentos, outras
opções e outros caminhos que nos tornassem mais humanos, mais sensíveis ao
sofrimento, atentos à natureza circundante e ao cuidado aturado com o meio
ambiente. Muito paleio e conversa fiada enquanto não se enterram os mortos, mas
passado esse efeito da consternação, do luto, da solidariedade e da compaixão,
já seremos bombardeados contra outras coisas que irão fazer esquecer a última
tragédia até à próxima que logo virá.
3. Passado o
efeito do drama, começa tudo de novo. As complicações. As zangas por ninharias.
Os ódios de estimação. O perdão torna-se coisa de fracos e de estúpidos. As
relações cortam-se por pura inveja. O egoísmo volta ao quotidiano, porque é
preciso atropelar para vencer e ganhar dinheiro, porque isto de ser grande não
vai com palavrinhas mansas. O amor é coisa de piegas, não de gente trabalhadora
e empreendedora. Sofrer por amor, humilhar-me pelo bem dos outros, nunca! - Tantas
coisas que ninguém se lembra depois do efeito já esquecido que causou a
tragédia.
4. O que é
preciso todos os dias é que me gaste com os filhos na dedicação ao desporto. Nisso
posso perder todo o tempo do mundo que não me cansa nada. Vida espiritual,
oração, estudo, ler um livro, contemplar a natureza, escutar o silêncio, a contemplação
da verdade, dar exemplo do que é a justiça e o respeito pelo bem comum, isso
não, porque dá trabalho e é preciso tempo, muito tempo… Tanta invocação de falta
de tempo e de pachorra para estas últimas coisas que mete dó, para não dizer
nojo. Reparem, não falta tempo para computadores, smartphones, telemóveis… Há tanta
companhia largada, ignorada e desprezada por causa do telemóvel e de todas as
maquinetas que hoje acompanham a vida inteira das pessoas. As pessoas têm menos
valor que as coisas, é assim o nosso tempo.
5. A humanidade,
mesmo com a verdade diante dos olhos, de que vive numa fragilidade cada vez mais
evidente, continua a considerar-se imortal, autossuficiente, dominadora de tudo
de todos. Nada toma o lugar da humanidade. É forte e é poderosa. Obviamente,
até à próxima tragédia, quando voltar o paleio ao contrário por mais algum
tempo. Santa ilusão que nos acompanha todos os dias.
6. Todas vezes
que acontecem as desgraças que fazem estragos materiais, há perdas de vidas
humanas e feridos, penso que isto acontece, para despertarmos e pelo menos durante
algum tempo pensarmos que todas as manias de grandeza que nos dominam são uma
pura e crua ilusão. Parece que cada calamidade devia servir para pensar seriamente
e arrepiar caminho, tomando a sério a vida em todas as suas dimensões, a dimensão
material, mas também a espiritual, porque é por aqui que humanidade se salva,
se reconhecendo frágil, limitada e por mais que progrida, há coisas do viver
que nunca resolverá em absoluto e que precisa de um transcendente que lhe dê
sentido à vida, ao sofrimento e à inevitabilidade da morte. Tantos desesperos
derivam precisamente da falta destes elementos.
7. A grande lição que se
tira das calamidades naturais que se tem assistido nos últimos tempos, é que
são avisos que a natureza nos faz, para que todos revejamos os caminhos que
andamos a trilhar. Deve ser de que precisamos de usar a inteligência e a
sabedoria, que foram extraordinariamente concedidas à humanidade, para que as
usem no caminho do bem, no cuidado connosco mesmos, com os outros e com a
natureza, sem a qual não seremos nada nem muito menos sobreviveremos. A vida é
tão curta, passa depressa demais, por isso, que não deixemos por mãos alheias o
que temos que fazer. Vamos juntos, convertermo-nos à paz pessoal, social e
ambiental e lutar por mundo onde todos possam viver com dignidade.
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