Oxalá esta notícia seja desmentida...
Dizem para aí que anda no ar a
concretização de um «grande negócio» entre alguns da Diocese do Funchal e o
Grupo Pestana. Após a minha compenetrada oração da manhã, a notícia que leio no Funchal Notícias, parece confirmar o zunzum. Oxalá seja mentira.
Mas, vamos a algumas ressalvas que nunca devemos esquecer. O património da Igreja Católica da Madeira é do
povo da Madeira. Ponto final. Alguns fingem que esquecem isso ou que não sabem disso.
Obviamente, que compete à Igreja
hierárquica administrar esse património, é o rosto visível para que saibamos a
quem recorrer para o fazer funcionar em prol do bem comum e da justiça. Isto é,
o bem do maior número de pessoas.
Todo o património da Igreja Diocesana do
Funchal, pertencente ao Seminário Diocesano, às paróquias, às congregações
religiosas e aos grupos e movimentos religiosos, não é desta ou daquela pessoa,
deste ou daquele bispo, deste ou daquele padre... Repito, o dono do património da
Igreja da Madeira, é o povo da Madeira.
Por isso, o património de todos nunca deve ser
utilizado para fazer-se negócios nem muito menos ser vendido para nos livramos
dele, porque é um estorvo e não há criatividade em um determinado momento para o fazer render humanamente, colocando-o
ao serviço do bem comum.
Para que sejam evitadas as tentações
capitalistas e a vontade de fazer lucro pelo lucro, o património da Igreja
Diocesana da Madeira não deve estar na mão de uma pessoa só, mas ser gerido por
uma equipa multidisciplinar com pessoas de vários quadrantes, para que todas as
decisões tomadas sobre o património que é de todos, seja o mais concordante
possível. No entanto, volto a salvaguardar que o património da Igreja Diocesana
do Funchal pertence ao povo da Madeira e existe para que o povo seja o seu
principal beneficiário. Ninguém tem o direito de fazer dele o seu terreiro,
usando e abusando a seu belo prazer fazendo negócio secretos. O que é de todos não é só de um ou de
meia dúzia.
A venda do Seminário da Encarnação à
socapa da maioria dos padres da Diocese do Funchal é uma indecência e um
atentado grave contra a história da Igreja da Madeira. Uma venda que fere o
significado daquele espaço para tanta gente que por ali passou e ainda mais violenta
a memória de tantos bispos e padres que lutaram por aquele património - já
esqueceram as peripécias do 25 de abril na Madeira? - Não me parece decente que
alguém se tenha lembrado, fazer negócio com aquele lugar, um dos mais nobres da
nossa cidade e com excelentes possibilidades pastorais, que isso sim serviriam uma grande porção do povo da Madeira.
Porque não para ali uma casa para os
pobres, uma clínica com parecerias a nível nacional e internacional neste domínio, uma casa para o clero com uma parte sendo hotel, um centro de pastoral geral com um auditório grande aberto a todos os acontecimentos culturais e religiosos, um lar para a terceira idade, quando se sabe que na
Madeira os serviços da Segurança Social têm mais de 600 idosos à espera de um
lar… Qualquer coisa voltado para o social, parece que não feria nada e até permitiria levantar uma onda de simpatia na opinião pública madeirense em relação à
Igreja Católica da Madeira, que neste momento se apresenta com uma imagem tão
desgastada. Mas, negócio por negócio para se desfazer de património tão
importante, correndo-se o risco de ser vendido ao desbarato e
incompetentemente, para um grupo que tem em vista o lucro e o luxo (consta que
será para nascer ali uma pousada luxuosa), não parece ser evangélico nem muito
menos honesto em relação às imensas necessidades que mancham o corpo, o coração
e a alma do nosso povo.
A história o Seminário da Encarnação foi
muito bem escalpelizada pelo Professor Nelson Veríssimo no Funchal Notícias no dia 1 de março de 2017. Era bom que
os autores do negócio procurassem ler com atenção este texto.
Agora vamos um pouco ao bispo atual, D.
António Carrilho, que parece querer ficar para a história da Igreja da Madeira como
o bispo que enterrou o Jornal da Madeira e como o vendedor do património mais
importante e significativo da Diocese do Funchal. Provavelmente, de um bispo em
vias de deixar de ser titular da Diocese, esperávamos mais decoro. Porque, no fim da sua
missão como bispo na Madeira, não me parece de bom tom permitir uma desgraça
deste género, isto é, permitir que alguém sem visão, completamente obcecado,
vender um espaço sem que se tenha um fim concreto em vista para aplicar os
milhões da venda, que não seja um fim nobre a favor do bem comum. Aliás, até
pode não ser vendido pelo seu real valor, tendo em conta que os
timoneiros desta armada percebem tanto de negócios patrimoniais como qualquer
um de nós percebe de mecânica de automóveis, salvo o devido respeito pelos
mecânicos.
Assim sendo, apelamos à serenidade, à
transparência e que se faça um verdadeiro debate com todos os responsáveis pela
Diocese, bispos diretamente relacionados com a Diocese que ainda estão vivos,
todos os padres diocesanos e religiosos e muitos leigos, particularmente, os
mais empenhados na vida da Igreja diocesana. Um leque enorme de gente deve ser
chamado a dar o seu contributo e deve saber com a maior transparência tudo o
que está relacionado com o património da Igreja da Madeira e, particularmente, com o caso do antigo Seminário da Encarnação.
Mau será que o negócio seja apresentado
como assunto consomado, como foi o Jornal da Madeira, sendo tudo feito em segredo
como se uns fossem «donos disto tudo» e os outros só têm que abanar a cabeça
porque sim.
Ninguém com o seu perfeito juízo deseja
que aquele espaço continue assim como está, degradado e votado ao
abandono, viveiro de plantas infestantes e ratos no logradouro que constituem
uma ameaça à saúde pública. Tal como está é uma zona de risco, pois em caso de
incêndio pode suscitar uma grave propagação urbana.
No Evangelho Jesus diz ao jovem rico: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me» (Mt 19,21). Não
me parece que seja esta luz a comandar quem pretende vender o Seminário da
Encarnação, porque a história recente da Diocese do Funchal, dita que a única
coisa que vai fazendo com o dinheiro que recebe do património consiste em puro
armazenamento e a caridade que faz tem sido exclusivamente com as dádivas dos
fiéis.
Certo é que tem vendido património e
parece manter esse gosto pelos negócios, sem transparência e sem ter em conta a
generalidade dos sacerdotes, que de alguma forma também representam o povo da
Madeira.
Enfim, esperemos que o bom senso
prevaleça e que se estude um destino condigno para o Seminário da Encarnação,
para que esta trágica venda não seja mais um negócio de alguns milhões, para
engordar as contas da Diocese sem que esteja previsto um destino que
corresponda ao bem mais elevado do nosso povo, o verdadeiro dono do património
da Igreja da Madeira.
Também muito mau será que ali nasça mais um
mamarracho luxuoso para achincalhar e debochar o miolo dos madeirenses em nome
do progresso e de tantas outras coisas que inventam para nos enganar
constantemente, fazendo da Madeira o eterno paraíso de alguns e o inferno da maioria. É triste que tenhamos que colocar neste mesmo saco alguns que
desgovernam a Diocese do Funchal.
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