Comentário à missa do domingo
XIII tempo comum...
1. A missa do próximo domingo oferece
logo na primeira leitura uma ideia muito bonita, a salvação de Deus é
universal. A hospitalidade deve fazer parte da vida de todos nós. Deus
recompensa com grande generosidade quem pratica o acolhimento como valor
essencial todos os dias. Neste relato aprendemos o quanto pode ser rica a nossa
vida se a prática da hospitalidade ou do acolhimento dos outros fosse uma
constante no mundo.
Não existiriam pobres nem marginais,
porque todos encontrariam uns braços amigos cheios de amor pelo encontro da
amizade e da solidariedade. Todos seriam cientes do Bem-comum.
A prática da dádiva não nos despoja, não
nos empobrece, muito menos nos faz perder seja o que for, muitas vezes ouvimos
dizer, «o que eu dou, nunca me faz falta». Na tradição bíblica o valor da
dádiva é sempre uma bênção e fonte de vida, mais para quem dá e outro tanto,
com toda a certeza, para quem recebe. Toda a dádiva deve ser o mais anónima e
secreta possível, desinteressada e sem que se esteja à espera de qualquer
recompensa logo à partida.
2. O nosso brilhante São Paulo,
ensina-nos que temos uma vida nova depois de sermos cristãos. A jornalista
Laurinda Laves definiu assim: «Uma só pessoa faz toda a diferença no mundo. Estamos demasiado habituados
a falar dos outros e para os outros, mas "os outros" somos nós. E
essa pessoa que sozinha muda o mundo é cada um de nós, pois toda a acção
humanizadora ou desumanizadora, se conjuga na primeira pessoa».
Essa «vida nova» que nos fala o Apóstolo dos Gentios,
tem claramente que ver com essa responsabilidade que devemos assumir uns pelos
outros. O mundo é nosso, nós somos a vida e o mundo, por isso, cada um é
chamado a assumir a sua responsabilidade sobre tudo o que se vai passando. Por
isso, não dos descuidemos e livremo-nos do «veneno da indiferença» (Papa Francisco). O artista Pedro
Abrunhosa no Meo Arena, no concerto solidário com as vítimas dos incêndios no
Centro do País colocou a medida nesta frase curta mas sintomática: «temos de
cuidar uns dos outros».
3. O Evangelho, parece, pôr em causa a legitimidade e,
até, o dever de amar os pais (o 4.º mandamento continua em vigor...) ou os
filhos. Não, nada disso. Jesus quer deixar bem claro que os laços familiares
não são absolutos, podem chegar a ser um obstáculo ao seguimento e, em todo o
caso, o discípulo deve dar sempre a primazia à opção pelo Reino e pelo Mestre.
A proposta de Jesus é muito exigente. Porque a verdade com coragem e o amor
incondicional, implicam radicalidade, que não tolera meias medidas nem muito
menos opções com «paninhos quentes». O cristão ou é ou não é em todos os
momentos da vida. Em casa e na Igreja sou cristão, na vida da cidade e no trabalho
sou um igual aos outros.
Muitos andam preocupados que o caminho
de Jesus deixe de ser de «massas», que tenha poucos adeptos, fiéis. A proposta
de Jesus convida à adesão e ao seguimento de uma causa, uma lógica que não é
deste mundo, aliás, choca claramente com
a lógica deste mundo. Aqueles que recebem o convite de Jesus, passam a ser
discípulos de uma realidade e de uma Pessoa, que propõem uma lógica ilógica
para o mundo, que exige uma aposta convicta a tempo inteiro e a «fundo perdido».
Porque caso não seja, reduz-se a uma entrega à religiosidade que calhou ser
esta, mas podia ser outra, porque é preciso exorcizar o medo da morte e ser um
como os outros. Se a nossa adesão se reduz a um comodismo, a uma passividade e
ao singelo cumprimento da tradição que alguém ofereceu, revela que estamos
longe de perceber qual é o sentido do ser discípulo de Jesus de Nazaré.
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