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domingo, 18 de novembro de 2012

O que mais precisamos é de justiça

Nota do Banquete: texto publicado hoje 18 de Novembro de 2012, no Dnotícias, Funchal.

Por José Luís Rodrigues

Destaque Dnotícias: «Não insultem quem tem sobre a mesa do quotidiano a necessidade de estender a mão para matar a fome»

Está na «moda» falar-se de pobres, de pobreza, de miséria… Parece um desígnio, uma meta, uma missão. Dá a ideia que todos temos que estar envolvidos nessa missão e que tudo devemos fazer para atingir essa meta. Porém, não há volta a dar, pobreza é pobreza e não é uma coisa boa quando se trata de falta de bens essenciais para a sobrevivência.
Não precisei de ir à Grécia para descobrir que há miséria entre nós, porque, é miséria estar aí no lugar da escassez dos bens onde não existi comida para alimentar os filhos, é miséria viver num país/região onde chegam crianças à escola sem terem comido uma refeição decente e onde se empobrece em cada ano que passa porque temos um Estado que sobrecarrega os cidadãos com uma «enorme carga de impostos», porque isto é um desígnio de quem está no poder. Levar as famílias à pobreza é uma coisa boa, miséria é que é uma coisa má. Não consigo encaixar esta clareza na minha cabeça. Pobreza é miséria e ponto final.
Grave, muito grave é termos uma série de gente com altas responsabilidades públicas que vão dizendo o que se tem ouvido, às vezes roçando o insulto e a falta de respeito pelos cidadãos. Elas são altas máximas que têm animado a comunicação social e em especial as redes sociais: «temos que empobrecer»; «ainda vamos ter mais desemprego»; «vivemos acima das nossas possibilidades»; «temos pobreza mas não temos miséria»; «não podemos comer bifes todos os dias» (…), são estes alguns dos mimos que vão circulando na praça e que pretendem convencer-nos que o caminho é este e que os responsáveis por este caminho tomam-no como um desígnio, uma missão para nos tirar da «infelicidade» que é ter o necessário para viver com dignidade. Inaceitável. Insultuoso e totalmente contrário ao que devemos pretender. Por isso, tenho dito e volto a dizer com firme convicção que há caridade que é insultuosa para os pobres. Se houvesse justiça não precisávamos da caridade de ninguém e isto sim seria uma coisa muito boa.
Outro aspecto não menos grave é que algumas políticas enveredam pelo mais fácil, a caridade. Muito mal andamos quando o Estado disponibiliza dinheiro a rodos para as instituições de caridade. Ainda há pouco soubemos de um acordo entre o governo e estas instituições, que bafeja algumas com cerca de 700 euros por utente. Um mar de dinheiro que vai fazer com que alguns dirigentes das instituições brilhem e se apresentem como salvadores dos pobrezinhos. Tudo isto é inadmissível e este dinheiro devia servir para criar emprego, porque melhor do que dar o peixe já cozinhado, o Estado deve promover a justiça e os meios eficazes que ocupem as pessoas para ganharem o seu sustento com dignidade e não de mão estendida à espera da caridade alheia.
Saliente-se que algumas figuras que marcam a actualidade neste domínio, ganharam protagonismo e fama à conta dos pobres, isto a meu ver não é admirável nem devia encher as medidas de ninguém. A pobreza é um escândalo e uma desgraça para quem cai nas malhas dessa fatalidade. Por isso, é urgente uma luta sem tréguas contra todo o género de pobreza, que deve radicar em exigências duras em favor da justiça e não o rebuçado ineficaz que é muitas vezes a caridade. Estou concentrado na denúncia das causas que levam à pobreza e na defesa da justiça como caminho a ser seguido por todos para que as nossas famílias encontrem com o seu trabalho o sustento necessário para viverem com dignidade. Todos os que fizeram da caridade um negócio, um fim para singraram em protagonismo e construírem uma imagem confortável de mediatismo, por favor, não insultem quem tem sobre a mesa do quotidiano a necessidade de estender a mão para matar a fome. A meu ver esta é uma miséria horrível que brada aos céus e não estamos nada felizes com isso, mas devemos isso sim estar profundamente envergonhados.

1 comentário:

José Machado disse...

Plenamente de acordo com o que diz.
As coisas talvez mudem quando se começarem a fazer greves e manifestações sobretudo com a exigência da Justiça que continua a não existir neste país.
Infelizmente a "barriga" continua a falar mais alto...